Governo do Estado do Rio Grande do Sul
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O novo carvão do Brasil

Publicação:

Edição Fevereiro 2014
20140311153706revista.jpg - Foto: CRM

O engenheiro civil Elifas Mariom Kerller Simas batalha desde 2011 para limpar o nome do carvão mineral junto à parte da sociedade, que aponta o dedo na direção do mineral e o chama de vilão, sem cerimônia. Tanto que o presidente da Companhia Riograndense de Mineração (CRM) afirma que uma das principais metas da empresa é a superação da imagem de “monstro energético” que o insumo carrega. A CRM produz cerca de três milhões de toneladas de carvão ao ano em três minas (Candiota, Leão I e Leão II), todas localizadas no estado que detém 80% das reservas nacionais, algo em torno de três bilhões de toneladas. À frente da empresa que em 2012 teve receita bruta de R$ 159 milhões, Simas usa o futuro como abonador do presente.

 

O presidente aposta no aumento da participação do carvão na matriz energética brasileira, principalmente com vistas à produção de energia elétrica, e nas negociações com possíveis parceiros internacionais no campo de Pesquisa & Desenvolvimento. A jóia da coroa é o projeto de gaseificação do carvão extraído em Candiota, promessa de modelo de produção de eletricidade mais sustentável econômica e ambientalmente.

 

Em entrevista à Mineração & Sustentabilidade, Elifas Simas detalha esses e outros projetos da CRM, apresenta as ações voltadas para a sustentabilidade que a empresa executa e argumenta sobre a viabilidade do carvão como fonte de energia.

 

Mineração & Sustentabilidade A Companhia Riograndense de Mineração (CRM) é uma empresa de economia mista, controlada pelo governo do Rio Grande do Sul. Como garantir harmonia entre os interesses público e privado, inseridos em um mercado com tantas oscilações?


ELIFAS SIMAS No caso da Companhia Riograndense de Mineração, os interesses público e privado têm harmonia constante para garantir o emprego e renda das comunidades locais que estão diretamente atreladas à vocação carbonífera. Quando o mercado oscila em detrimento do carvão, são postas em prática ações compensatórias para assegurar a continuidade da mineração. Como exemplo, a prospecção de novos mercados, estudos para garantir novas aplicações do carvão gaúcho (como gaseificação e carboquímica) e incentivo a projetos de geração energética com aproveitamento das reservas do estado. Como empresa pública, a CRM não pode se dar ao luxo de reduzir cargos e salários em momentos de crise, pois seu quadro é formado por concursados.

 

M&S A CRM é detentora de um potencial de três bilhões de toneladas de carvão. O que tamanha reserva representa na matriz energética brasileira? Há perspectivas de aumento do consumo de carvão mineral?


ES A previsão de novos leilões energéticos para usinas a carvão tende a alavancar a demanda. Para tanto, o governo do estado tem agido para elevar o preço teto do MW e garantir a participação de interessados nos certames. O Rio Grande do Sul tem chance de dois empreendimentos saírem vencedores (Seival,em Candiota, e CtSul, em Cachoeira do Sul), o que deverá possibilitar a oferta de 1.250 MW para abastecer o mercado consumidor brasileiro em 2018. A construção da usina de gaseificação do carvão em Candiota, com uma planta de 10 MW com possibilidades de ampliar em mais 10 MW, também está nos planos da companhia. No país, a produção de energia elétrica a partir do carvão mineral representa cerca de 1,5%.

 

M&S A CRM acredita que, embora a produção das termoelétricas a carvão represente apenas 1,5% do sistema elétrico nacional, o carvão mineral constitui-se numa alternativa técnica e economicamente viável. Quais os argumentos da empresa para convencer o mercado quanto a isso?


ES O índice de utilização do carvão é baixo em comparação com a hidrelétrica, que ultrapassa os 75%, e a eólica. Quanto menores os reservatórios das hidroelétricas e maior a participação de eólica, maior a necessidade de energia de reserva. Sem essa reserva, tem-se a necessidade de ampliação das termoelétricas como garantia energética nesses períodos. Enquanto países desenvolvidos como a Alemanha e Estados Unidos têm 50% de carvão na matriz energética, o Brasil aproveita muito pouco esta energia firme e sustentável. Na Alemanha, por exemplo, cerca de 23 GW de energia nuclear serão substituídos, em grande parte, por energia gerada pelo carvão mineral.

 

 

M&S A indústria brasileira questiona os altos preços do combustível. Como reverter esta situação?

ES A carboquímica e a gaseificação surgem como alternativa. A tecnologia atual possibilita a obtenção de novos produtos e sequestro de agentes nocivos ao meio ambiente agregando valor ao carvão. Além de produzir energia, pode a gaseificação resultar na produção de subprodutos de uso industrial, como o hidrogênio, que pode ser utilizado também como combustível, fertilizantes, além da consequente redução do enxofre emitido. Pequenas Centrais Térmicas (PCTs) estão em estudo, através de uma parceria entre Cientec, CEEE e CRM, para geração de 20 MW de energia elétrica implantadas na boca da mina. Além da eletricidade, os resíduos servem para produção de tijolos para a construção de moradias populares no município.

 

M&S Existem projetos e parcerias com países do Mercosul? O Brasil tem condições de exportar carvão mineral para os países vizinhos?


ES Até o momento não. Porém, com os projetos térmicos e eólicos existentes, o Rio Grande do Sul pode passar de importador de energia para exportador, não só para o Brasil, mas também para o Mercosul.

 

M&S Os ambientalistas são contrários ao uso do carvão mineral. Como o senhor contesta essa aversão ao produto que a CRM produz?


ES Longe de ser o monstro energético pintado por ambientalistas que têm por base uma época em que sequer existiam cuidados ambientais, o carvão mineral gaúcho provém de um complexo sistema de equilíbrio e aprimoramento tecnológico para redução no impacto da extração e queima. Transmitir conhecimentos capazes de afastar os estigmas que o carvão representa e enfatizar a economia circular, onde os rejeitos de uma empresa são reaproveitados por outras, agrega valor com o crescente mercado para os rejeitos de mineração, que servem como matéria prima para diversos produtos. Esta é uma das principais metas da CRM.

 

M&S Os engenheiros da multinacional Siemens estiveram reunidos com representantes da CRM, no mês passado. O que podemos esperar deste encontro? As duas empresas farão negócios no futuro?


ES A divulgação da proposta entregue pela CRM no início de 2014 vem atraindo o interesse de empresas nacionais e estrangeiras para a realização do projeto de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) para gaseificação do carvão de Candiota. A Siemens é uma das empresas interessadas, bem como empresários chineses, que devem estar no Rio Grande do Sul nos próximos meses para discutir sua participação neste mercado futuro.

 

M&S Quais são os principais gargalos encontrados pela produção de carvão mineral no Brasil? É possível firmar contratos futuros com tranquilidade?


ES O principal gargalo é o ranço ambiental que começa a ser transformado.Principalmente durante as quedas energéticas do verão, o carvão surge como salvação aos problemas que intensificam as discussões acerca de seu aproveitamento.

M&S A CRM anunciou a implantação de um polo metalmecânico em Candiota ainda em 2014, como forma de ampliar as perspectivas de desenvolvimento local e regional. Como estão as negociações deste empreendimento?

ES O polo de Candiota está em vias de implantação ainda em 2014. A meta é abrir uma filial da Brumetal no município e as empresas Delta H Tecnologia, Grupo Imetame e Estel Elétrica também se instalarão. O polo será implantado próximo a CRM e UTE Presidente Médici da Eletrobras da CGTEE. As empresas trabalharão com engenharia de manutenção, com usinagem, tratamento térmico, revestimento e recuperação de peças. Nesse contexto, a CRM e a CGTEE aparecem como clientes em potencial.

 

M&S Há outros projetos envolvendo a unidade da CRM em Candiota e a própria cidade. O senhor pode nos adiantar detalhes a respeito?


ES O município de Bagé, próximo a Candiota, prevê a implantação de uma Pequena Central Térmica (PCT) no município. Já foram firmados acordos técnicos e já há área liberada no distrito de Santa Thereza, que conta com licença prévia da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Além disso, a cidade de Bagé está em contato com empresas de São Paulo, responsáveis por projetos de PCTs.

 

M&S Quais são os investimentos em sustentabilidade realizados pela CRM como forma de minimizar os impactos nas unidades onde existem unidades da empresa?

ES Reflorestamento, plantio de árvores nativas, projetos sociais de conscientização das populações. A extração e geração de energia termoelétrica evoluíram consideravelmente nos últimos anos. Nas unidades da CRM, além de recuperar as áreas atualmente em mineração, o solo é corrigido de passivos ambientais. O programa implantado de recuperação concomitante de áreas já mineradas vem acompanhando adequadamente o avanço das áreas em mineração, não permitindo o surgimento de passivos ambientais. Este programa define a disposição dos materiais da descoberta das camadas de carvão na mesma ordem em que se encontravam originalmente na natureza, com preservação total dos estratos de solo orgânico e revegetação das áreas mineradas. A CRM vem implantando seu Sistema de Gestão Ambiental.

 

As obras necessárias para adequação das operações da mina já estão com os projetos prontos e deverão ser licitadas em breve. A Mina de Candiota, juntamente com Oscip local, vem desenvolvendo o Programa Vigilantes Ambientais, que visa difundir as ações ambientais e formar jovens ambientalmente engajados. A empresa está implantando sistemas de tratamento de efluentes provenientes de antigas áreas de mineração da década de 1960, não recuperadas à época e que hoje passam por lentos, mas contínuos, processos de recuperação ambiental. Numa destas antigas áreas de mineração, Malha II, não recuperada na época, a empresa está desenvolvendo projeto experimental de recuperação de solo. A CRM implantou, em 2008, um viveiro de mudas de arbóreas nativas, ampliado entre 2012 e 2013, que vem contribuindo enormemente para reposição da mata nativa na região. Com produção na faixa de 10 mil mudas/ano, substituiu a aquisição externa de mudas, propiciou o desenvolvimento de mudas de espécies provenientes de sementes nativas do local, ali coletadas, e contribuiu para o desenvolvimento de mudas aclimatadas à região.

 

M&S Como o senhor encara o mercado brasileiro nos próximos anos? Há perspectivas positivas pela frente?


ES As perspectivas são bastante positivas para os próximos anos. O mercado tem se voltado mundialmente ao carvão mineral como fonte energética. A energia nuclear vem sendo substituída pela térmica e os avanços tecnológicos têm possibilitado uma nova visão ecológica, adequada à realidade atual.

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